sexta-feira, 26 de abril de 2019

INDIFERENTE




Me chamam de frio!
Me chamam de indiferente e orgulhoso, dizem que dei às costas para todos!
Dizem que não tenho sentimentos por outros e por ninguém!
Afirmam que sou como um animal que age por instinto e ignora a necessidade dos outros.

Eles confirmam muitas coisas a meu respeito, acusam-me de desalmado, anticristo, ateu, satanista; eles me excomungaram e baniram-me...
Disseram que sou como uma porta para demônios nesse mundo.

O que eu sei é que perdi, e nunca tornarei os que perdi! Sei que se foram, a Morte tomou todos a quem amei... A vida se incumbiu de separar as famílias e tornar vazia a convivência!
O que sei é que meus demônios, são meus!
Que nessa solidão são os únicos companheiros! Sei que quando choro pelos cantos são eles que me erguem.

Onde está essa porta?
Onde está o mal que causo? Onde estão os monstros que invoco e o Diabo que adoro?
Onde estão suas acusações?

Apontaram o dedo e me julgaram, fizeram-me ajoelhar em cacos e rezar terços; agora me culpam por detestar o cristão?!
Me traíram e magoaram-me, pisaram sobre meu coração como a cabeça de uma Coral, e agora me chamam de indiferente?!
Quebraram os cacos já quebrados e já colados e me fizeram tornar a cola-los; acusam-me de ser insensível?!

Tornei-me a muralha de gelo, o monstro debaixo da cama, o cianureto, a serpente no paraíso, o perfume fraco, a alma animal e o ar do inverno...
Tornei-me o que todos influenciaram, o que a vida moldou, o que a Morte não poupou, a maldição do cristão e a bruxa na inquisição.
Tornei-me a própria maldição.


Maicou Rangel P.