segunda-feira, 11 de abril de 2022

O QUE RESTOU


Eu o ouvi morrer quando começara a escrever...
Ele só precisava ser abraçado no meio da sua tempestade de sentimentos.

Ele amou como ninguém amou, me ensinou a enxergar o amor em sua verdade; sem condições, omissões e na pura intensidade...
Eu o vi amar seus amigos, seus amores, eu o vi entregar tudo sem que o pedissem, inúmeras vezes me perguntei como poderia alguém passar tanto amor assim?
Mas ele sucumbiu em suas dores, nunca desistiu, mas acabou em sua exaustão...

Tudo começou quando em seus pensamentos estava a se perder, ele olhava pro chão e dissipava sua própria existência ali; em meio aos amigos ele desaparecia na sua própria cabeça, seus colegas reclamavam dizendo ser ignorância ou desfeita, mas não era, era um grito de socorro, ele procurava estar com seus amigos, pois em sua solidão era muito sangue e muita dor na alma...
Ele amou muito, amou muito mesmo.
Namorou um jovem rapaz que conheceu, e nele se viu, nele se encontrou...
Aquele jovem refletiu toda dor que havia no Maicou, como um espelho, era seu reflexo, e nisso ele se confrontou...
E confrontando seus próprios medos, machucou também esse amor, se viu maculando o que ele mais queria zelar...

Eu o vi chorar desesperadamente, gritando sozinho em seu quarto, pedindo perdão a vida e ao universo, sem crer em deus nenhum, suplicando a própria existência que houvesse mais uma chance de ser melhor, que não tirassem dele aquele amor que tanto estava a amar, aquela pessoa que coube em seus braços...
Eu sofri com ele, pois toda verdade que havia ali, era medo, o medo de perder...
Medo de não ser amado, medo de ser jogado de lado, fadado a um fracasso dado de bom grado pelas próprias mãos.

Um dia ele perdeu a cabeça, e quando se viu perdendo, por ser tão confuso e intenso desejou morte de 'deus e todo mundo', mas em instantes ele se arrependeu, não era de verdade; ele estava sufocando, agonizando dentro de si sem saber colocar em palavras o que queria perguntar, exclamar, e suplicar...
Eu vi um artista, um poeta, um amante morrer por ser bom de mais num mundo sujo, cheio de pessoas despreparadas para o amar.

E quando ninguém o abraçou, ele se desprendeu de si, ele pediu que eu lhe desse mais um momento para "ESCUTA-LO", ele só queria ser ouvido, compreendido, abraçado; ele zelou de suas dores, mas não as curou como curava os outros, ele se perdeu e perdeu todos a quem amou.

Agora, eu estou aqui escrevendo sobre quem morreu ontem, escrevendo sobre cada partícula de dor que minha versão anterior suportou; tentando mais uma vez acreditar que o Maicou de hoje merece acreditar, merece amar, merece ser feliz...

Aqui RESTOU.

Maicou Rangel P.